Reflexões 21/09/2018

Memes velhos, memes novos e as eleições

No final das contas uma eleição é uma batalha de memes. E, como na competição pela vida, não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.

Candidatos a presidente do Brasil em 2018

Momentos que atraem a atenção de uma grande quantidade de pessoas para uma mesma direção, como o período eleitoral, costumam ser fecundos na criação de memes.

Quando muitas pessoas tentam compartilhar sentidos, significados, impressões e compreensões de um mesmo fato, os argumentos complexos e elaborados tentem a ser distorcidos e não serem bem assimilados. As pessoas veem as mesmas mensagens mas atribuem significados diferentes a elas. O mesmo conteúdo gera compreensões diferentes.

Já os memes têm o poder de gerar o efeito contrário. Eles são mensagens que podem até variar de formato em seu processo evolutivo e sua competição por espaço em nossas mentes, mas seu significado costuma ser bastante objetivo e de fácil assimilação. Eles representam um certo significado que uma certa comunidade quer disseminar. Nesse processo o conteúdo varia, mas a compreensão gerada tende a ser a mesma.

Nesse período eleitoral estamos vendo uma enxurrada de memes em nossas timelines e isso não é uma exclusividade desta eleição. Nem mesmo é uma novidade trazida pela internet. Eleições e política sempre geraram muitos memes.

Ideologias políticas são elaborações muito complexas, que tentem a gerar distorções e dificuldade de assimilação. Paradoxalmente é mais fácil disseminá-las por meio da simplicidade dos memes do que pela complexidade dos argumentos.

Por isso os estrategistas políticos costumam usar memes em seus esforços eleitorais, e fazem isso principalmente na forma de rótulos, frases de efeito ou trocadilhos, que são de fácil assimilação e disseminação.

Nessas eleições de 2018 no Brasil está sendo possível observar uma outra característica dos memes: eles envelhecem. Memes antigos tendem a não gerar o mesmo efeito que memes novos.

Na hora de exaltar suas qualidades, mas principalmente na hora de atacar os adversários, os candidatos fatalmente caem na tentação de requentar memes antigos, cunhados em outras eleições, outros contextos e outras épocas, como por exemplo:

fascista, nazista, estatista, liberal, comunista, republicano, democrata, antidemocrata, libertário, progressista, conservador, reacionário, retrógrado...

É claro que esses rótulos (que são memes), possuem um enorme significado. Mas como já são mais amplamente conhecidos pela comunidade de eleitores, não causam mais o mesmo efeito. Não chamam mais a atenção na mesma intensidade que outrora.

Outros memes que antes foram muito fortes no debate eleitoral brasileiro, ligados a projetos e planos de governos anteriores e a problemas nacionais que tiveram destaque no passado, parecem ter perdido força em 2018 :

plano real; responsabilidade fiscal; PROUNI; FIES; PAC; bolsa família; minha casa, minha vida; PAC; inflação; dívida externa...

Essas expressões não possuem mais o mesmo apelo (embora possuam muito significado) do que antes. Não mais se ganha nem se perde eleição batendo nessas teclas.

Em 2018 outros memes, com um pouco mais de frescor e predominantemente de viés negativo, têm ganhado notoriedade no palco eleitoral:

racista, homofóbico, machista, corrupto, sexista, misógino, violento, imoral...

Esses "novos" memes têm provocado mais reações apaixonadas e impactado mais o eleitor (de qualquer lado ou orientação política) do que os clássicos memes políticos.

No final das contas uma eleição é uma batalha de memes. E, como na competição pela vida, “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças” (Frase atribuída a Darwin mas que talvez não seja dele, ou seja, talvez seja "só" mais um meme).

 

Publicado originalmente no LinkdIn

SOBRE

Meu nome é Sergio Mari Jr. e esse é meu blog pessoal.

Sou publicitário e relações públicas especialista em mídias digitais. Sou professor universitário e consultor em marketing digital.

Curso doutorado em Ciência da Informação na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Pesquiso as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e processos de informação e comunicação nas mídias digitais.

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