Publicado originalmente em WebInsider em 17/09/2006.
O processo eleitoral deste ano começou com uma mudança de regras que alterou sensivelmente a forma como os partidos políticos fazem suas campanhas. Trata-se da Lei 11300/06. Entre essas mudanças está a proibição a candidatos e partidos de distribuir camisetas, chaveiros, bonés, canetas, cestas básicas ou qualquer outro bem material que possam significar benefícios ao eleitor. Também foi proibida a participação de artistas e cantores em comícios dos candidatos.
Outro veto imposto pela legislação é a utilização de outdoors para a propaganda eleitoral. A empresa responsável, os partidos, coligações e candidatos que utilizarem esta mídia podem ser condenados à imediata retirada da propaganda irregular e ao pagamento de multa no valor de 5.000 a 15.000 Ufirs.
Com tantas restrições à outras mídias, era de se imaginar que a internet pudesse ser a grande arma das campanhas deste ano. Contudo, a poucos dias do pleito, esta expectativa parece não ter se confirmado. Pelo menos não com a intensidade que se esperava.
A web se caracteriza pela interatividade e capacidade de aproximar pessoas entre si e de aproximar pessoas à idéias, conceitos, produtos, empresas e marcas. Olhando friamente, é tudo o que os partidos precisam: aproximar pessoas de suas idéias e propostas. Mesmo assim a utilização desta mídia nas campanhas tem sido no mínimo superficial.
Como exemplo do potencial desta mídia, podemos citar o e-mail marketing, que tem se revelado uma das estratégias mais baratas e eficientes de divulgação e formação de relacionamentos. Um estudo feito pelo Winterberry Group nos Estados Unidos mostrou que campanhas de marketing por e-mail geram um retorno 17 vezes maior do que campanhas feitas por correio convencional e até 73 vezes maior do que campanhas de telemarketing (Fonte: revista Webdesign. Ano 3, n.33, setembro/2006, p.8). Mesmo assim, este dispositivo está sendo utilizado com muita timidez pelos partidos nestas eleições.
Esses são apenas alguns exemplos. Além desses, um grande número de outras vantagens e motivos para a utilização da internet nas campanhas eleitorais poderiam ser citados aqui. Contudo, na prática, o que estamos vendo é o foco das campanhas voltado quase que exclusivamente ao horário eleitoral gratuito no rádio e televisão e às ações presenciais, como reuniões, comícios, atos públicos e caminhadas junto a eleitores.
Políticos com foco nas classes C e D
É claro que para nós profissionais desta mídia isso é lamentável, mas temos que procurar enxergar os motivos para o fraco ritmo do crescimento da utilização da web em campanhas políticas. Da mesma forma que as vantagens são óbvias, os motivos para sua pouca exploração também são óbvios. Vamos analisar alguns números.
Segundo o censo do IBGE, o Brasil tem pouco mais de 180 milhões de habitantes. O TSE divulgou que para as eleições 2006 somos mais de 120 milhões de eleitores habilitados.
Quando comparamos este universo com o número de usuários atingidos pela mídia internet, as coisas começam a ficar mais claras. Segundo o Ibope/NetRatings, em junho/2006 a internet tinha no Brasil 13,4 milhões de usuários ativos. Isso representa apenas pouco mais de 10% de todo o universo eleitoral.
As pesquisas eleitorais têm mostrado que quem está decidindo as eleições deste ano são as classes C e D, enquanto que a audiência da internet é formada principalmente pelas classes A e B.
Tudo isso nos mostra que, mesmo com todas as vantagens oferecidas, a baixa penetração social do acesso à internet ainda não a credencia como uma ferramenta capaz de atingir o número de pessoas necessário, o suficiente para alterar o resultado das eleições.
Outro motivo: as grandes vantagens da web atualmente giram em torno da exploração dos recursos multimídia, com áudio, vídeo e animações. Como sabemos, estes recursos, para serem bem aceitos pelos usuários, dependem de uma conexão de banda larga. Contudo, uma estimativa da E-Consulting mostra que até o final de 2006 deverão existir no Brasil apenas cerca de 4,1 milhões de usuários conectados em banda larga. Número irrisório quando comparado ao universo de 120 milhões de eleitores.
Público formador de opinião
Estas desvantagens, bem ou mal, justificam a não exploração da internet nas campanhas eleitorais com a mesma intensidade que esperávamos depois das sanções impostas pela legislação a outras mídias. Apesar disso, ainda há pelo menos um argumento que daria à internet um papel estratégico fundamental nas campanhas eleitorais: ela é povoada por formadores de opinião.
Mesmo representando apenas pouco mais de 10% do universo eleitoral brasileiro, a web é uma mídia privilegiada, pois a maioria de seus usuários é formada por pessoas das classes A e B, com alto grau de instrução. Há na internet um grande número de pessoas capazes de gerar e liderar mobilizações sociais.
Ou seja, mais do que 13,4 milhões de usuários, a internet tem 13,4 milhões de multiplicadores de idéias e formadores de opinião, que podem retransmitir as mensagens recebidas via web a um grande número de pessoas a quem estão socialmente ligadas. Não dá para não levar isso em conta.